Os eventos com CIOs são excelente oportunidade de entender os
desafios e problemas que estes executivos enfrentam. As conversas
geralmente fluem soltas e abertas. Curioso é ouvir com frequência frases
como “ TI e o negócio”, que me soa estranho, como se fosse uma
percepção de nós, TI e eles, o negócio. Não ouvimos falar de “vendas e o
negócio”. Então por que TI é visto de forma separada do negócio, sempre
sendo necessário enfatizar “TI e o negócio”?
Também observo que são raríssimos os CIOs que ascendem ao topo da
organização. Quase não vejo CEOs oriundos de TI, mas sim de outras áreas
como vendas, finanças, operações, etc., mas não de TI.
Pensando um pouco sobre o assunto observamos que embora de alguma
forma TI e o CIO se envolvem com todo o negócio (pense na implementação
de um ERP, que transversa toda a organização), TI é vista de forma
separada e periférica.
Com certeza parte do problema decorre do fato que os CEOs e demais
executivos não entendem direito o que TI realmente faz. Mas, creio que
parte substancial é responsabilidade do próprio CIO, que se coloca à
margem do negócio. Difícil ver CIOs participando de eventos de negócios.
Em um recente evento patrocinado por um jornal econômico sobre os
futuros da economia nos próximos anos, não vi na lista de presença
nenhum CIO.
Outro contexto comum é ver os CIOs passando a maior parte de seu
tempo com sua equipe técnica ou com seus fornecedores de tecnologia
discutindo detalhes tecnológicos e uma parcela mínima de seu tempo com
seus pares das outras áreas de negócio, debatendo perspectivas do
negócio. O próprio jargão especializado cria barreiras de comunicação.
Um CIO me confessou que estava decepcionado porque sua proposta de
implementar um modelo de governança de TI não encontrava eco na equipe
executiva. Da conversa ficou claro que na verdade a proposta acabava
passando um percepção de burocracia e lentidão e não deixava claro que
benefícios agregaria para o negócio. Nitidamente um foco excessivamente
centrado na tecnologia e nos meandros da TI, que não interessam a um
CEO.
Outro ponto que me chama atenção é que a maioria das equipes de TI
são constituídas de profissionais muito centrados na tecnologia, com
pouca intimidade com o negócio. Muitas vezes os processos de governança
implementados em TI incentivam estas barreiras pois filtram os contatos
entre o negócio e a TI, deixando a equipe de TI muito voltada para
dentro de seu feudo. Uma sugestão aqui é criar mecanismo que favoreçam
embutir a equipe técnica no negócio em si, aumentar seu conhecimento das
especificidades das demandas do negócio e incentivar nas comunicações
com os usuários uma linguagem menos técnica.
Um outro desafio para os CIOs é o fenômeno da consumerização da
tecnologia. A tecnologia disponível lá fora, smartphones e tablets com
apps sofisticados e intuitivos , fáceis de serem baixados, torna a vida
dentro da empresa quase que uma volta ao passado. Um CIO me disse que
seu presidente comentou que “ao entrar na empresa se sentia voltando ao
passado, pois não encontrava nos sistemas corporativos as facilidades e
intuitividade que os apps que ele usa no seu dia a dia”. Surge um
paradoxo interessante, pois quando mais os usuários se tornam íntimos e
gostam da tecnologia, mais eles reclamam da TI tradicional. Na verdade,
este fenômeno não é novidade, pois começou com o surgimento dos PCs e a
reação negativa de muitos CIOs que viam falhas de segurança em todo
canto com seu uso. Com o tempo, resolvemos os problemas e todas empresas
usam PCs e laptops. Com os smartphones e tablets e a facilidade de se
obter apps, o processo cresceu exponencialmente. Hoje o primeiro lugar
onde as novidades tecnológicas são usadas são nas casas e no dia a dia
dos usuários e só depois é que chegam às empresas. Claramente este
descompasso é um motivo de insatisfação.
O que fazer? É um desafio e tanto, pois ao mesmo tempo que deve
manter os sistemas legados operando sem problemas, os CIOs e a TI devem
adotar inovações tecnológicas em ritmo cada vez mais rápidos. Tentar
preservar o tradicional paradigma de controlar a entrada de tecnologias
na empresa, com as homologações feitas anteriormente, é uma luta
inglória. Os CIOs que tentam preservar este status quo já perderam a
luta. Como disse a um CIO, “cloud computing é tudo aquilo que seus
usuários já usam e você não sabia...ainda". O vetor resultante desta
tentativa de preservar o controle é o “shadow IT”, aquelas tecnologias
que entram nas empresas ao largo da TI tradicional. E provavelmente é
muito, mas muito maior que os CIOs acreditam que seja nas suas
organizações. Isto comprovei em um assessment em uma organização.
Identifiquei uma grande parcela dos usuários usando apps e nuvens para
atividades profissionais usados sem o conhecimento da área de TI. Muitas
soluções especializadas são vendidas pelos seus fornecedores
diretamente às áreas usuárias. TI, portanto, deve assumir uma postura
proativa, não apenas aceitando mas conduzindo o processo de
consumerização nas empresas. É uma mudança de seu modelo mental, de
comando e controle para conselheiro e consultor. Uma sugestão: repense
seus modelos de governança e compliance pois eles provavelmente, por
terem sido criados para um modelo computacional anterior às nuvens,
smartphones e tablets, já estão obsoletos.
Portanto, os CIOs têm muito a fazer. Os sinais de fumaça, indicadores
que as mudanças são inevitáveis estão aparecendo em todos os lugares. O
ritmo de mudanças está se acelerando de forma visível. O cenário de
negócios, em consequência, está cada vez mais complexo e instável.
Como TI está cada vez mais inserida no negócio, podemos até nos
arriscar a dizer que não temos mais “TI fazendo parte do negócio”, mas o
“próprio negócio é TI”. Os tempos em que existia um setor de TI,
isolado, definitivamente já passou.
As empresas que ainda estão no
estágio de “buscar alinhamento entre TI e o negócio” já perderam o trem.
Ele já saiu da estação e elas tem que dar um salto quântico para se
reposicionarem. Questão de sobrevivência.
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